Lembras-te, quando naquelas nossas madrugadas em que o relógio de madeira imperante, pregado a três parafusos maciços contra a parede do vosso quarto, denunciava as quatro badaladas?
E nós, enlameados sobre a luz regulada a pouca intensidade sobre as mesinhas de cabeceira… circundando-nos num pequeno ladear de luminosidade que não era incomodativa, que me valia para conseguir detonar os teus salientados abdominais, trabalhados nas exaustivas horas de treino madrugador… agora completamente suados, das nossas anteriores horas loucas, em que nos entregámos ao amor.
“Esta, é a última vez… não podemos voltar a cair no erro de nos envolvermos novamente!” – dizia-te eu, sobre o perjúrio da calmaria de um dos sete pecados mortais, enroscada aos lençóis brancos e estaticamente desalinhados, que me envolviam até ao peito. E tu, continuavas a albergar-me sobre esse teu olhar atento e estranhamente protector, incidido no meu corpo semi-nu, perscrutavas a minha silhueta delgada com máximo de astúcia e rigor… como se estivesses a apontar cada pormenor: as curvas e as contra curvas das minhas ancas e da minha cintura… a tatuagem que discretamente tinha desenhada sobre a pele caramelizada do pescoço, surdida com a inicial do teu nome “R”… E mais uma vez continuavas… Continuavas a observar-me com esses dois olhos achocolatados, agora fixos nos meus… e por momentos senti-me como uma presa a ser vigiada por um predador, que nem tu! “Tens razão, esta é a última vez, até à próxima que vier…” – eras directo e perspicaz na resposta, deixando que cada lacuna dos teus lábios, se preenchesse num rasgo de rebeldia, assim que me seduzias em mais um dos teus sorrisos fatais. “Até quando tencionas continuar a manter uma vida dupla?” – interrogava-te aquando tu já te aconchegavas novamente a mim, disposto a afagar cada mecha morena do meu cabelo… e num sussurrar inebriante junto do meu ouvido, respondias com serenidade “Até ao dia em que te perder de vista, os meus olhos já não sintam a necessidade de te procurar… até ao momento em que o factor da tua ausência deixe de afectar as minhas horas de sono… até ao instante em que os meus lábios e a minha língua não proclamem a vontade de saciar o desejo na tua boca… até ao ponto em que eu não sinta ganas de gemer quando os nossos corpos se unificam, aqui… nesta cama ou em qualquer outro lugar… quando perder toda a sanidade e te deixar partir, para o conforto dos braços de outro sacana qualquer! Porque só  irei deixar de ter uma vida dupla, quando for mais uma vítima da cobardia e for obrigado a formatar a minha memória, fazendo-me esquecer tudo aquilo que somos e tudo aquilo que representamos: Sim, somos amantes... e daí?"

6 commentaires:

  1. obrigadaaa *.* também adoro o teu e também sigo!

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  2. ainda bem que gostas querida, também gosto muito do teu *.*
    também te sigo :)

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  3. obrigada, também gostei bastante do teu :)
    também sigo *

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  4. Bem, está fantástico! Eu gosto imenso destes textos/cartas inventadas :D

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cher Joana