Sentou-se no banco de madeira enfrente do piano e começou a calcar as teclas com a polpa dos dedos, enquanto pelo solfejo se esforçava por seguir as notas, sem errar um único acorde, naquela melodia amargurada e entediante. Gostava de compor uma história, mas sabia que não poderia ser a história da vida dela "não podemos ficar juntos", fora ele que lhe dissera naquela manhã antes de entrar no metro. E de facto não podiam… ela sabia que não era a mulher da vida dele e estava longe de algum dia o vir a ser. Imaginou-lhe o perfume forte, emaranhado à pele do pescoço, os olhos rasgados de avelã e os lábios de pêssego. Se ao menos pudesse dizer-lhe o que sentia. Suspirou. Cessaram-se as notas e a melodia findou, era sinal de trocar a partitura e começar de novo.

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cher Joana